Morre, aos 72 anos, o criador do Fofão

 Foto/Danilo Verpa


Da Folha S.Paulo

O ator e humorista Orival Pessini,criador de personagens como Fofão, Patropi e Sócrates, morreu na madrugada desta sexta (14), por volta das 4h, no hospital São Luiz, em São Paulo.

Morto aos 72 anos, ele enfrentava um câncer no baço e estava internado havia duas semanas. A informação foi confirmada pelo empresário do artista, Alvaro Gomes, em sua página numa rede social.

O ator, nascido em São Paulo, em 1944, era divorciado, deixa um filho e três netas. Seu enterro está marcado para ocorrer às 17h desta sexta-feira, no Cemitério Gethsêmani, no bairro de Vila Sônia, zona oeste de São Paulo. A reportagem entrou em contato com a administração do cemitério, que informou que o velório não tem, até este momento, hora para começar, já que o corpo de Pessini ainda não chegou ao local.

Rei dos bordões ("sei lá, entende?", "numa velocidade"), Pessini era o humorista que poucos saberiam reconhecer o rosto: seus personagens mais conhecidos estavam sempre mascarados, em geral com grandes bochechas. Foi no teatro que o humorista paulistano começou a sua carreira, atuando em peças amadoras. Chegou à televisão em 1963, integrando o programa infantil "Quem Conta um Conto", da TV Tupi. Mas o sucesso viria mesmo na década seguinte, com o programa "Planeta dos Homens", da Rede Globo. Nessa atração, que contava com a participação de Jô Soares e Agildo Ribeiro, Pessini interpretava dois dos macacos, personagens do programa: Charles e Sócrates. O primeiro era dono do clássico bordão: "Não precisa explicar, eu só queria entender!". Usando máscaras de látex e argila, os tipos depois inspirariam o trabalho do ator com Fofão e Patropi, também mascarados. 

       Divulgação 

FOFÃO - Foi na Globo que Pessini criou o mais famoso de seus personagens, o Fofão –o alienígena de enormes bochechas, nascido na Fofolândia, que trocava as sílabas de lugar e vestia camiseta listrada e macacão jeans. Fofão estreou como um coadjuvante no programa "Balão Mágico", em 1983, e depois ganhou o próprio programa, na Band, graças à sua popularidade entre as crianças. Ficou no ar até 1997, em um programa na Rede Gazeta. Sobre a concepção do Fofão, Pessini dizia que havia se inspirado em "E.T.", de Spielberg, e embutiu um nariz de porco, pelos de urso, bochechas de São Bernardo e um pouco de palhaço. No programa "The Noite" (SBT), de Danilo Gentli, Pessini disse que queria um personagem que demonstrasse "calor humano" e "sentimento". 

Fofão se tornou, ao lado do palhaço Bozo, um dos símbolos mais característicos da televisão brasileira nos anos 1980. O brinquedo inspirado no personagem virou alvo de uma lenda urbana que circulava naquela década, que insinuava que a coluna do boneco era, na verdade, um punhal. Em entrevista à Folha, em 2014, Pessini se queixava do"desserviço que traumatizou uma geração". Também se irritou no começo deste ano, quando descobriu que um integrante da Carreta Furacão, conjunto de adultos fantasiados, planejava ir a um protesto pró-impeachment de Dilma com uma fantasia de segunda mão do Fofão. Pessini proibiu. 

"Eu não autorizo o uso da minha imagem em nenhum tipo de evento político, de um lado ou outro, nem no vale do Anhangabaú, nem na avenida Paulista", esbravejou à época. "É uso indevido de imagem. Ninguém pediu autorização para usar. Não é legal." Nos últimos anos, ele também ensaiava um retorno: estava em negociação para relançar o personagem em games para tablets e em desenho animado. O projeto deu lugar ao DVD #FofãoForever, lançado no final de 2015, com apresentações ao vivo de sucessos do personagem como "Som e Fantasia". PATROPI E JUVENAL Ainda em meio ao sucesso do Fofão, na década de 1980, Pessini criou outro popular personagem: Patropi, inspirado em bichos-grilos universitários. 

Com essa figura, Pessini desfilou o bordão "Sem crise, meu!" em programas de diversas emissoras, como "Praça Brasil" (Band), "Escolinha do Professor Raimundo" (Globo) e "Escolinha do Barulho" (Record). Na "Escolinha Muito Louca", da Band, fez outro tipo: o velho rabugento Ranulpho, com seu cachecol e mais uma de suas máscaras bochechudas. Também mascarado (e agora com óculos escuros), deu vida ao locutor esportivo Juvenal, de "A Praça É Nossa", aquele do bordão: "numa velocidaaaaaade". No SBT também viveu um de seus últimos personagens, Clô, uma sátira ao estilista Clodovil. Nos últimos anos, largou a máscara para viver o padre José da série "Amores Roubados", da Globo, e o Senhor Campos, de "Carrossel –O Filme" (2015), seu último longa