Cirurgião bariátrico Walter França comenta pesquisa da ONU sobre obesidade

Relatório aponta crescimento da proporção da população atingida pelos problemas, que também afetam mais outros países da América Latina e Caribe/Foto divulgação






Relatório elaborado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Pan-americana de Saúde (Opas) e divulgado recentemente alerta para o aumento da obesidade e o sobrepeso no Brasil, América Latina e Caribe, com um impacto maior nas mulheres e uma tendência de crescimento entre as crianças. De acordo com o cirurgião bariátrico pernambucano Walter França, com mais de 3 mil cirurgias da obesidade no currículo, esses dados são preocupantes e só crescem com o passar dos anos. O sedentarismo potencializado pela revolução tecnológica, a ocidentalização no modo de se alimentar com forte adesão pelos fast foods e a própria violência que leva os pais a proibirem as brincadeiras de rua, dá suporte para um maior interesse pelos jogos de computador, fazendo surgir uma jovem geração de crianças com sobrepeso e, em casos mais graves, obesas.

Segundo o levantamento, intitulado "Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe", mais da metade da população brasileira está com sobrepeso e a obesidade já atinge a 20% das pessoas adultas no país, enquanto 58% da população latino-americana e caribenha estão com sobrepeso, num total de 360 milhões de pessoas, e a obesidade afeta 140 milhões, ou 23% da população regional.

No documento, elaborado com base em dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o sobrepeso em adultos no Brasil passou de 51,1% em 2010, para 54,1% em 2014. A tendência de aumento também foi registrada na avaliação nacional da obesidade. Em 2010, 17,8% da população era obesa; em 2014, o índice chegou aos 20%, sendo a maior prevalência entre as mulheres, 22,7%. Outro dado do relatório é o aumento do sobrepeso infantil. Estima-se que 7,3% das crianças menores de cinco anos estão acima do peso, sendo as meninas as mais afetadas, com 7,7%.

- O Panorama acende um alerta para toda a sociedade e também para o governo. Ao mesmo tempo em que o Brasil conseguiu superar a fome, alcançando níveis inferiores a 5% desde 2014, quando o país saiu do mapa da fome da ONU, vem aumentando nos últimos anos os índices de sobrepeso e obesidade. Essa situação gera impactos importantes na saúde e deve ser um tema prioritário nas agendas das famílias e das autoridades - afirmou o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic.

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, informou que a prevenção é marca da atual gestão da pasta: - O Brasil vem enfrentando aumento expressivo do sobrepeso e da obesidade em todas as faixas etárias, e as doenças crônicas são a principal causa de morte entre adultos. O setor da saúde tem importante papel na promoção da alimentação adequada e saudável. Desta forma, o ministério tem reforçado os programas e as iniciativas que buscam mudar o hábito da população e incentivar práticas mais saudáveis.

O crescimento econômico, a urbanização e a mudança nos padrões de consumo são alguns aspectos que explicam o crescente aumento do sobrepeso. O relatório aponta que muitas famílias têm deixado de consumir pratos tradicionais e aumentado a ingestão de alimentos ultra-processados e de baixa qualidade nutricional.

Combater essa realidade implica em adotar sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis que unam agricultura, alimentação, nutrição e saúde. É necessário fomentar a produção sustentável de alimentos frescos, seguros e nutritivos, garantir a oferta, a diversidade e o acesso, principalmente da população mais vulnerável. Isso deve ser complementado com educação nutricional e advertências para os consumidores sobre a composição nutricional dos alimentos ricos em açúcar, gordura e sal.

O relatório, no entanto, também destaca iniciativas adotadas pelo governo brasileiro para promover a alimentação saudável e alertar a população para os riscos da má alimentação. Uma delas é a criação de legislações que regulam a comercialização e a publicidade de alimentos para lactantes e crianças, além de outros alimentos voltados à primeira infância. Também foi citada a campanha "Brasil Saudável e Sustentável", que tem por objetivo sensibilizar e alertar a população brasileira dos benefícios da alimentação saudável.

Outro avanço é o Plano Nacional de Redução de Sódio em Alimentos Processados, que já retirou 14.893 toneladas de sódio dos produtos alimentícios. O Brasil também contribuiu ativamente para a aprovação da Década de Ação pela Nutrição (2016–2025) – estabelecida na última Assembleia Mundial da Saúde, em maio de 2016 – para promover o fortalecimento das ações na área de nutrição, com foco na Agenda 2030 das Nações Unidas.

Realidade Regional- Ainda de acordo com o relatório, com exceção de Haiti (38,5%), Paraguai (48,5%) e Nicarágua (49,4%), o sobrepeso afeta mais da metade da população de todos os países da América Latina e Caribe, sendo Chile (63%), México (64%) e Bahamas (69%) os que registram as taxas mais altas. Já com relação à obesidade, as maiores prevalências são observadas em países do Caribe: Bahamas (36,2%) Barbados (31,3%), Trinidad e Tobago (31,1%) e Antígua e Barbuda (30,9%). A obesidade também impacta mais as mulheres: em mais de 20 países de toda região, a taxa de obesidade feminina é 10% maior que a dos homens.

- As taxas alarmantes de sobrepeso e obesidade na América Latina e Caribe devem chamar a atenção dos governos da região para criar políticas que abordem todas as formas de fome e má nutrição, vinculando segurança alimentar, sustentabilidade, agricultura, nutrição e saúde - diz Eve Crowley, representante regional da FAO. Carissa F. Etienne, diretora da Opas, por sua vez, explicou que a região enfrenta "uma dupla carga da má nutrição que deve ser combatida com uma alimentação balanceada que inclua alimentos frescos, saudáveis, nutritivos e produzidos de forma sustentável, além de abordar os principais fatores sociais que determinam a má nutrição", dando como exemplos a falta de acesso a alimentos saudáveis, à água e saneamento, serviços de educação e saúde e programas de proteção social, entre outros.

Desnutrição infantil cai, mas ainda afeta os mais pobres

De acordo com o Panorama, a região conseguiu reduzir consideravelmente a fome e hoje apenas 5,5% da população está subalimentada, sendo o Caribe a sub-região com maior prevalência (19,8%), devido ao fato de o Haiti ter a prevalência de subalimentação mais alta do planeta: 53,4%. A desnutrição crônica infantil (altura e peso baixos para a idade) na América Latina e Caribe também registrou uma evolução positiva: caiu de 24,5% em 1990 para 11,3% em 2015, uma redução de 7,8 milhões de crianças.

Apesar desse importante avanço, atualmente 6,1 milhões de crianças ainda sofrem de desnutrição crônica na região: 3,3 milhões na América do Sul, 2,6 milhões na América Central e 200 mil no Caribe. Destas, 700 mil crianças sofrem com desnutrição aguda, sendo 1,3% menores de cinco anos. Praticamente todos os países conseguiram melhorar a nutrição das crianças, mas cabe destacar que a desnutrição afeta mais a população mais pobre e de áreas rurais. - São nesses locais que os governos devem concentrar os esforços - salienta Eve Crowley. As prevalências mais altas de desnutrição crônica infantil na região são registradas na Guatemala (2014-2015), e Equador (2012-2013), já o Chile e Santa Lúcía têm as menores taxas. A desnutrição crônica apresenta níveis superiores em áreas rurais de todos os países analisados.

Aumenta o sobrepeso infantil

No outro lado da questão, o relatório aponta também que na América Latina e Caribe 7,2% das crianças menores de cinco anos estão com sobrepeso, o que representa um total de 3,9 milhões, sendo que 2,5 milhões moram na América do Sul, 1,1 milhão na América Central e 200 mil no Caribe. As taxas mais elevadas de sobrepeso infantil entre 1990 e 2015 foram registradas – em números totais – na América Central (onde a taxa cresceu de 5,1% para 7%). O maior aumento na prevalência foi registrado no Caribe (cuja taxa aumentou de 4,3% a 6,8%). Já na América Sul – a sub-região mais afetada pelo sobrepeso infantil – houve uma leve diminuição de 7,5% para 7,4%.

Melhorar a sustentabilidade da agricultura

Outra preocupação levantada no relatório é melhorar a sustentabilidade da agricultura na região. Segundo o levantamento, a trajetória atual de crescimento da produção agrícola é insustentável devido, entre outros fatores, às graves consequências impostas aos ecossistemas e recursos naturais da região.

- A sustentabilidade da oferta alimentar e sua diversidade futura estão sob ameaça, a menos que mudemos a forma como estamos fazendo as coisas - alerta Eve Crowley, destacando que 127 milhões de toneladas de alimentos se perdem ou são desperdiçados anualmente na América Latina e Caribe. Segundo a FAO e a OPAS, é necessário tornar mais eficiente e sustentável o uso da terra e dos recursos naturais, melhorar as técnicas de produção, armazenamento e transformação e processamento dos alimentos, e reduzir as perdas e os desperdícios de alimentos para assegurar o acesso equitativo dos mesmos.

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